quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Drummond: Reencontros com o poeta

Carlos Drummond de Andrade (Foto/Divulgação)
Outubro é o mês em que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) recebe várias homenagens em razão do seu aniversário, a ser celebrado no próximo sábado (31). A ocasião anualmente inspira ações que rememoram a importância do legado deixado pelo poeta. Como sempre, quem mais se beneficia com esse momento são os leitores, que agora terão a oportunidade de tecer novos encontros com a vida e a obra do escritor mineiro, a partir de dois lançamentos recentes.
 
Um deles é o título “O Poeta e a Foca” (leia mais na página 2), da jornalista Nanete Alves, que será lançado em Belo Horizonte no dia 6 de novembro. Há cerca de quatro décadas, quando Drummond estava prestes a completar 75 anos, Nanete conseguiu fazer uma entrevista com o autor, algo até então inédito, pois ele era conhecido por não conversar com a imprensa. Nesse livro, ela narra toda a experiência que a levou até Drummond, de quem depois se tornaria amiga e manteria com ele uma constante troca de correspondências.
 
A outra obra é a reedição do projeto “Nova Reunião”, que saiu pela Companhia das Letras. A antologia traz, desta vez, 23 escritos do autor, sendo 16 deles publicados em versão integral, como “A Rosa do Povo”, que completou 70 anos em 2015, além de seleções de mais sete tomos. A iniciativa atualiza um trabalho iniciado pelo próprio Drummond.
 
Três anos antes de morrer ele fez a última supervisão do volume, que, naquela época, foi composto a partir da junção de 19 livros. A primeira edição, de 1969, reunia 11. Ainda em vida, o escritor orientou os netos Pedro Graña Drummond e Luis Mauricio Graña Drummond a cuidar de sua literatura e atualmente são eles que têm dado continuidade a essa antologia de poemas.
 
“Carlos me encarregou de cuidar de sua obra profissionalmente e me deu várias dicas práticas. Ele me indicou cinco amigos para consultar em caso de dúvidas e, entre outras incumbências mais, me deu carta branca para fazer as coisas como eu bem entendesse. De lá para cá, e graças ao próprio Carlos, que deixou seus arquivos muito bem organizados – o que nos ajuda até hoje –, meus irmãos e eu procuramos seguir sua orientação fielmente”, conta Pedro.
 
Ele afirma que no passado também auxiliou o avô em pesquisas, algo talvez capaz de ter influenciado a decisão de Drummond de dar ao neto tamanha responsabilidade. “Como Carlos sabia de meu gosto pelas Belas Artes, ele me pediu uma mão para localizar algumas das obras de arte que o inspiraram a escrever os versos do livro ‘Arte em Exposição’. Desde então, lido com a obra dele e já fiz capas, ilustrações, concebi e colaborei com novas edições, fiz adaptações para teatro, cenografias, convidei artistas para fazer suas próprias adaptações para teatro, cinema, dança e até música. Já colaborei direta e indiretamente na produção de eventos e exposições também”, diz.
 
O zelo de Drummond com acervos literários, observa Nanete Alves, não era voltado apenas ao que ele escrevia. A autora sublinha que foi ele, inclusive, quem organizou o setor de histórias em quadrinhos dentro da vasta coleção do célebre bibliófilo Plínio Doyle (1906-2000). Este tinha um apartamento reservado exclusivamente para guardar diversas obras e receber os amigos escritores que viviam no Rio de Janeiro.
 
“Plínio era um aficionado por literatura e fazia na casa dele reuniões que os autores chamavam de ‘sabadoyle’. Elas giravam em torno de conversas sobre livros e aconteciam todos os sábados, sempre regadas a guaraná e biscoitinhos. Várias personalidades participavam disso, entre elas Drummond”, afirma Nanete.
 
De acordo com ela, quando o poeta chegava no local, a primeira coisa que ele fazia, após cumprimentar rapidamente os convidados, era ir até a coleção de quadrinhos conferir se tudo estava bem guardado.
 
“Isso fazia parte do hábito dele, que sempre foi muito organizado. Em relação ao que ele escreveu, Drummond sempre teve consciência da importância de sua obra, ele sabia que futuramente muito do que escreveu seria objeto de estudo, então ele deixou tudo bastante documentado”, acrescenta ela.
 
Fonte: O Tempo/Carlos Andrei Siquara
 

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