sábado, 25 de novembro de 2017

Semana da Consciência Negra – 30 anos de injustiça e de injúria racial! “A gente tinha até vergonha no que dizia que o nosso povo negro se adaptou muito fácil com a escravidão”, desabafou o pároco

Contra o racismo! “Ás vezes tínhamos vergonha e sofríamos por ser negros!”, disparou o Padre Eugênio


Marujeiros e congadeiros celebram o “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra” (Foto/Delly Jr./Diário de Itabira)
Durante as comemorações da “Semana Itabirana da Consciência Negra” com o tema “Construindo Itabira sem racismo”, juntamente com o projeto “Educando Itabira sem Racismo” em plena semana da comemoração do “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”. O Padre Eugênio Ferreira de Lima celebrou a missa na noite desta segunda-feira (20) na Igreja Nossa Senhora do Rosário “Rosarinho” que contou com pouco público durante a celebração da missa comemorativa no combate contra o racismo e o preconceito racial, onde aconteceram as congadas com danças que foram executadas pelos grupos de marujos e congadas durante a comemoração histórica que é muito importante na cidade para prevalecer à igualdade racial diante da desigualdade social no país.

Padre Eugênio de Lima  (Foto/Delly Jr./Diário de Itabira)
Na homilia, Padre Eugênio de Lima ainda evitou fugir da liturgia durante a celebração do dia comemorativo do combate contra o racismo e relembrou dos grandes personagens históricos como “Moises” e “Zumbi dos Palmares” durante a escravidão dos negros que eram humilhados, chicoteados e vendidos pelos fazendeiros nas comunidades vizinhas, onde os fazendeiros eram conhecidos como senhores de engenho, e eram os verdadeiros coronéis nas comunidades quilombolas daquela época. 

Do qual o “Zumbi dos Palmares” defendeu os negros com unhas e dentes contra as forças imperiais e hostis para prevalecer o favorecimento à liberdade dos negros durante a escravidão, e também na derrubada do “Quilombo dos Palmares”, de forma muito estratégica diante da organização para o aquecimento da diversificação econômica da nação. “Ele (Zumbi dos Palmares) conseguiu organizar economicamente, e não era sozinho e tinha sob a sua liderança. E ele era um grande líder capacitado que reorganizou o quilombo (dos palmares) militarmente, e tinha uma capacidade muito estratégica. E (o Zumbi dos Palmares) também organizou economicamente tornando o ‘Quilombo dos Palmares’ que era um dos quilombos mais importante que acabou se tornando autossustentável até de comercializar com as comunidades vizinhas. Então, é aquilo que os historiadores falam que é a primeira experiência de uma república livre dentro do Brasil, e é claro que os poderosos não podiam aceitar isso!”, contou.

Filho de casal negro e branco, padre Eugênio de Lima ainda desabafou com os fieis que estiveram presentes durante a missa no “Rosarinho”, e comparou a comunicação entre a radio, tv, internet e redes sociais (twiiter, facebook, whatsapp) diante do mundo tecnológico e da era digital em que nós vivemos atualmente, e com fácil acesso desde o surgimento da internet que permitiu a facilidade de se comunicar com os seres humanos nos tempos de hoje. E sendo que nas décadas passadas diante do mundo arcaico não existia comunicação sequer como hoje diante dos avanços tecnológicos que vão se avançando e evoluindo cada vez mais, onde os negros moravam nas senzalas das fazendas separadamente das suas famílias evitando visitas e contatos das suas próprias famílias na época que não havia e nem existia comunicação sequer, antes do surgimento internet e da era digital. E os negros eram todos misturados com os escravos estrangeiros sem entender os idiomas sequer por parte deles sem conhecer os ancestrais e a geografia da nação sequer diante da exploração do trabalho a troco de comida, pão e agua para sobreviver com os escravos que eram exportados diretamente dos continentes da África e Europa, onde a mentira foi pregada dizendo que os negros se adaptaram facilmente com a escravidão, antes da princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga promover a abolição da escravidão durante sua terceira e última regência para a assinatura da Lei Áurea em 1888, antes do Brasil ser o pais da monarquia em 1889. E o padre Eugênio de Lima ainda declarou aos seus fieis dizendo que tinha muita vergonha das pessoas que diziam que os negros eram fáceis para serem escravos, do qual o pároco foi vitima de racismo ainda estudante durante a sua juventude a escola e na universidade. 

“Quando eu era estudante na escola, e vocês não pegaram esse tempo graças a Deus! Mas, a gente tinha até vergonha no que dizia para nós que o nosso povo negro se adaptou muito fácil com a escravidão. E a gente engolia essa mentira que foi passando para nós de que nós negros nascemos para serem nativos da índole de escravos. Então, portanto aceitamos e não nos contavam por que até os 30 anos atrás praticamente não se contava a verdadeira história do povo negro. Por isso, que muitos de nós do meu tempo e entre outros (as) (pessoas), às vezes tínhamos vergonha e sofríamos por ser negros por que não tínhamos uma referência. E nos não tínhamos heróis (negros), e os heróis eram todos brancos. Roubaram o padre ciclo do padre porre com as crianças, e também roubaram isso de mim! Por que eu só fui aprender quando eu estava lá na universidade. E roubaram a minha infância! Assim como de tantos outros como no meu tempo não nos levando a sentir o orgulho de ser (mos) negro (s), e sabendo de que nos temos uma história. E viemos de um lugar que o nosso povo estava organizado. E que nós não vivíamos como ensinavam feito selvagem no sentido negativo (...) Essa história não era contada para mim e da minha geração! O passaram para mim que o nosso povo já eram escravos na África (do Sul) e vieram para cá e se adequaram facilmente! E esqueceram de contar a verdade que o nosso povo lutou! E que muitos (escravos) até chegavam a praticar o autoextermínio ou uma forma de se libertar para voltar para a África (do Sul) de onde eles (os escravos) foram arrancados! Então nunca aceitaram passivamente, e muitas revoltas. E aconteceu por que ficaram escondidas para vender essa história de que o nosso povo eram povos afeitos a escravidão para ser cego eu nasceram para isso, e esqueceram! (...) Imaginam! O negro não pode! E esconderam isso da gente! Como esconderam tantos heróis? Quando eu seria porto que na minha infância desde o beabá da escola tivesse apresentado para mim essa história! Com certeza eu não ia ficar beijando o cabelo liso da minha professora que não me beijava, e achava que eu era mais bonito (...) E tudo isso foram escondido para nós por que não interessava! E graças a Deus as coisas mudaram! E ainda precisa mudar! Mas há 30 anos atrás nas escolas a gente não aprendia nada. Eram histórias fabricadas para poder manter-nos por baixo da estima”, desabafou.

Padre Eugênio de Lima ainda avisou aos fieis e os pais que estiveram presentes durante a missa comemorativa do “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra” para que os (as) seus (uas) filhos (as) não tenham medo, orgulho e vergonha de serem negros com caráter, humildade, honestidade, dignidade, ética e transparência prevalecendo todo o respeito aos próximos sem se importar com as cores e raças alheias dos seres humanos, e evitando julgamento da semelhança da cor e raça dos outros evitando denegrir a imagem dos seres humanos, sabendo que há desigualdade social no país diante do preconceito racial e social através de tratamentos diferenciados no país. “A gente tem que reconhecer que há tratamentos diferenciados, e que nós precisamos lutar para que isso não aconteça mais! Para que os nossos filhos da minha geração e os filhos de vocês possam viver sem ter os cabelos ser a necessidade de ficar alisando para não ter vergonha da nossa etnia, e que as nossas crianças tenham orgulho, e também não tenham a vergonha de brincar com a boneca negra. É isso! Que nós precisamos lutar para que elas (as crianças) possam viver melhores e sejam respeitadas com dignidade! E não julgadas por causa da cor da pele. Mas, tratadas como gente! É isso que nós queremos, e se nós hoje estamos aqui por que muita gente antes de nós lutou e morreu, e muitos antes desde o ‘Zumbi dos Palmares’ e tantos outros, e nós somos herdeiros dessa história! E nós não estamos aqui por acaso, e não é por acaso que conquistamos alguns direitos! Não? É uma história de luta, de sangue, de suor, de lágrimas, de gritos das senzalas, e gritando por Nossa Senhora (do Rosário) e de gritos enquanto os chicotes batiam e enrascavam a carne deles (dos escravos), e eles gritando por nós, e nós estamos aqui por eles! E somos herdeiros deles! Da sua luta, do seu sangue, do seu martírio! E nós não podemos esquecer isso! Sobre o risco de quando nós morrermos escutar deles: ‘não conheço vocês!’ ”, defendeu.

Para o padre Eugênio de Lima foi uma experiência muito boa ao celebrar a missa comemorativa do “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra” juntamente com uma boa parte da comunidade negra da cidade. E o padre Eugênio ainda afirmou que a igreja do rosário é um lugar muito simbólico e significativo para a comunidade negra que construíram a igreja matriz do rosário. “Por que normalmente a igreja do rosário é uma igreja dos homens negros. Normalmente nas cidades históricas era o local onde (os negros) eles se reuniam, e construído por eles (pelos negros). E foi uma experiência muito grande para mim e foi muito marcante estar celebrando com aquela comunidade”, comemorou.

Sobre os grandes desafios para o combate contra o racismo no país. Padre Eugênio de Lima afirmou que o combate contra o racismo começa pela educação nas escolas. “Então, é isso! Passa pela educação dessa meninada, da formação deles (as) para aprender a enxergar o diferente com respeito! Nós somos diferentes! Da cor, da ideologia política, de religião. Mas, temos uma coisa incomum que é a nossa dignidade humana e a nossa humanidade. Então, isso precisa ser reforçado, e passa pela educação, e não tem outro caminho não!”, destacou.                                

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