Crescimento do número de lojas disponíveis para locação no Centro é outro indicador de que investidores estão temerosos quanto às perspectivas da economia do município
Enquanto centenas de postos de trabalho estão sendo cortados nas empresas terceirizadas da Vale e também na mineradora, o comércio de Itabira fecha lojas e os consumidores reduzem as compras e evitam crediários, por medo de endividamento. Os impactos da crise econômica do país já são visíveis, literalmente, nas ruas itabiranas.
“Se você observar, vai ver várias portas fechadas na João Pinheiro, avenida que é a principal do comércio itabirano”, aponta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Itabira (CDL), Maurício Henrique Martins. “O problema é nítido”, acrescenta.
O líder empresarial avalia que, apesar da alta da inflação e do dólar, que encarece mercadorias e serviços, o maior problema em Itabira são as demissões na mineração. “As pessoas estão com medo de comprar, de fazerem compromisso e depois ficar desempregadas”, afirma.
Maurício Martins cita como exemplo das dificuldades da economia itabirana o fato de a Fenacouro – feira itinerante que é “o terror” dos comerciantes locais – não ter prorrogado sua permanência na cidade, ao contrário das outras vezes. “Sem movimento, eles [os feirantes] desistiram de manter a concorrência”, destaca.
Ainda segundo o presidente da CDL, devido à forte dependência da mineração como principal atividade econômica, cada emprego perdido na Vale ou nas terceirizadas acarreta o fechamento de, pelo menos, um posto de trabalho no comércio. “Se um é demitido na Vale, aqui fora também as empresas terão que se ajustar”.
Apesar do cenário pouco animador, Maurício Martins aposta na chegada da coleção de inverno para aumentar as vendas do comércio local. “O momento não é bom, mas está chegando a nova coleção de mudança de estação”, diz ele.
Automóveis - As revendas de veículos usados também estão sentindo o impacto da crise econômica. O setor registrou breve aumento de vendas após o pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da Vale e agora passa por fase de retração acentuada.
O empresário Sebastião Silva, dono de uma agência de seminovos, admitiu que o movimento está em queda e também atribui o problema “ao fato de o consumidor estar mais inseguro em relação ao seu emprego e ao futuro, o que reflete na intenção de compras”.
Os aumentos da tarifa de energia elétrica, e dos combustíveis e da inflação, de um modo geral, são fatores que contribuem para essa insegurança dos consumidores, avalia o empresário. Além disso, o setor sente o impacto do aumento das taxas de juros.
“Tudo está subindo e, para piorar, tem aí essa série de demissões para todo lado. O consumidor está ficando acuado e com o pé no freio”, enfatiza Sebastião Silva.
Cuidados pessoais - Segundo Maria Augusta Feira, proprietária de salão de beleza, a crise está atingindo a todos, sem distinção. As reclamações dos fregueses de maior poder aquisitivo e as daqueles de menor renda, avalia, são as mesmas. “O dinheiro está curto, as contas altas e quase não está sobrando para os tratamentos pessoais”, destaca.
Os reflexos disso, afirma Maria Augusta, são sentidos diretamente no caixa. “Desde que começaram as demissões na Vale, o faturamento do salão teve queda média de 30%”.
Geralda Ambrósio, Luiz Carmelo Freitas e Ivone Santana, todos profissionais do setor, reforçaram as informações de Maria Augusta. “Até o final do ano passado era preciso marcar horário no salão com pelo menos três dias de antecedência, agora está faltando cliente, inclusive aos sábados, dia normalmente de casa cheia”, diz Luiz Freitas.
Imóveis - No setor imobiliário, os profissionais preferem não tocar no assunto e dizem acreditar que a crise é passageira. Entretanto, tornaram-se comuns as casas e lojas vazias com placas de aluguel espalhadas por toda a cidade, o que há pouco tempo era quase impensável.
Entre as lojas de materiais de construção os impactos da crise ainda não foram sentidos em toda a intensidade, avalia José Antônio Reis Lopes, proprietário da Lopes Lar e ex-presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agropecuária de Itabira (Acita).
A situação, entretanto, não é motivo para otimismo. “Eu costumo dizer que para o material de construção a crise chega de forma retardada”, afirma. E a explicação é simples: uma pessoa que está construindo uma parede não para sua obra por causa da crise, para não perder o que já foi feito.
“Não tem como ter otimismo com esse cenário aí e todo indicativo econômico e não esperar uma recessão brava pela frente”, admite o empresário. A preocupação aumenta, segundo José Antônio, se for levado em conta que o minério de ferro – principal produto da economia itabirana – está com o preço cada vez menor no mercado internacional.
“Se a recessão durar muito tempo vamos ver muita loja fechando, desemprego e com isso a queda da arrecadação. O governo precisa das empresas para arrecadar e sem a arrecadação o governo não tem como manter os programas [sociais, de educação, saúde e desenvolvimento]”, avalia José Antônio.
Tudo bem - Já os supermercados, pelo menos por enquanto, parecem fazer parte dos setores menos afetados. O Diário telefonou para cinco deles, localizados no Centro e bairros, e em todos obteve a resposta de que o volume de vendas está se mantendo “equilibrado”.
A mudança observada, na maioria dos supermercados, nos útimos dias, foi em relação ao comportamento do consumidor. “Diante da insegurança, as pessoas estão dando preferência ao consumo de produtos de maior necessidade, estão comprando, como dizem, o grosso, como arroz, feijão, açúcar e outros”, disse a gerente Maria Auxiliadora Lage.
Fonte: Jornal Diário de Itabira