Vista parcial de Itabira (Foto/Eugênio Moraes/Hoje em Dia)
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Essa é a segunda de uma série de reportagens do Hoje em Dia sobre cidades mineradoras, publicadas sempre aos domingos. O distrito industrial que já funciona na cidade tem ocupação de quase 100%, demandando mais espaço para empresas que queiram se instalar em Itabira, conforme afirma o vice-prefeito, Reginaldo Calixto de Oliveira. “O distrito, que possui capacidade para 62 empresas já tem 53 corporações instaladas. A diversificação econômica é necessária para fortalecer a economia da cidade”, comenta.
O complexo industrial deve, no futuro, direcionar o crescimento econômico do município para atividades que não dependam exclusivamente da Vale, empresa que nasceu em Itabira em 1942 e continua como carro-chefe da economia. Mas, a urgência para conseguir substitutos para a atividade mineradora, ante o inevitável esgotamento das minas, não existe mais. “Algumas pessoas falam que as minas da Vale se esgotarão em 60 anos, outras em 70 anos. Há pouco tempo a mineradora desenvolveu um projeto para estender ainda mais o tempo de vida das minas. Acreditamos que isso irá acontecer novamente”, diz o prefeito.
Na avaliação do diretor do departamento de Ferrosos da Região Sudeste da Vale, Antônio Padovezi, a mineradora é parceira do município no processo de diversificação econômica. “A Vale apoia o município na atração de outras empresas. Nossa intenção é a de que no futuro a Vale seja apenas mais uma grande empresa em Itabira”, diz.
INOVAÇÃO
Há cerca de três anos, a Vale iniciou o investimento de R$ 7 bilhões na cidade com o objetivo de aproveitar melhor o minério. Trata-se de projetos inovadores, que permitirão recuperar materiais descartados no passado. A empresa espera consolidar a tecnologia de beneficiamento de itabiritos de baixo teor (cerca de 40% de minério de ferro). Os projetos de Itabira dividem-se em três empreendimentos principais: conceição-Itabiritos I (que recebeu R$ 2,19 bilhões), Conceição-Itabiritos II (R$ 2,13 bilhões) e adequação da usina de Cauê (R$ 2,75 bilhões). Como consequência, houve um aumento no tempo de vida útil das minas.
Falar em estender a vida é útil das minas é sinônimo de aumento na arrecadação de impostos. E, consequentemente, aumento da capacidade de investimento do poder público. Entre 2006 e 2013, a arrecadação da cidade quase que dobrou, saltando de R$ 202,7 milhões para R$ 492 milhões.
Hoje, segundo Damon, há em Itabira 31 escoladas, 29 Posto de Saúde da Família (PSF) e coleta seletiva de lixo em todo o município. Há, ainda, dois hospitais (um doado pela Vale) e um campus da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), cuja estrutura foi construída pela prefeitura.
Em dezembro, a prefeitura vai inaugurar o segundo prédio da Unifei, que irá ocupar uma área de 11 mil metros quadrados. “Nossa cidade não teria este desenvolvimento econômico se não fosse a Vale, isso é fato”, diz o prefeito.
Unifei ampliará oferta de cursos
A Unifei, em parceria com a Prefeitura de Itabira, entrou com pedido de ampliação de cursos junto ao Ministério da Educação e da Cultura (MEC). O objetivo é que o curso de Medicina seja oferecido na cidade. Atualmente, a Unifei é prioritariamente voltada aos cursos de engenharia, em função do perfil econômico do município.
Vale investe em projetos ambientais na cidade
Se por um lado a Vale transforma os recursos naturais de Itabira em lucro, de outro a mineradora desenvolve uma série de programas ambientais na cidade. Entre eles, a gestão dos recursos hídricos. De acordo com a companhia, 76% da água utilizada na mineração é reaproveitada.
A Vale é, ainda, parceira da prefeitura em dois grandes projetos de captação. No primeiro, são captados 60 litros por segundo no Rio de Peixe. No segundo, a captação é de 100 litros por segundo na barragem Santana. Um terceiro projeto é desenvolvido exclusivamente pela prefeitura. Este, de acordo com o prefeito, Damon Lázaro de Sena, prevê a captação de 900 litros por segundo do rio Tanque. “Seria a solução para o déficit de água da cidade, que é de 15%”, diz.
Para este último projeto, o governo federal rerepassou R$ 1,2 milhão à prefeitura há três anos. No entanto, a obra não foi iniciada a tempo e o valor ficou abaixo do necessário. “Vamos ampliar o capital e fazer outra licitação”, garante Sena.
A Vale também desenvolve programas de recuperação do solo, resgate da flora, apoio à implantação dos parques Mata do Intelecto e Mata do Limoeiro, no distrito de Ipoema, monitoramento da qualidade do ar, entre outros.
Comércio de produtos de luxo reflete crescimento
O preço de R$ 600,00 de um vestido na vitrine da Via do Corpo, loja de moda de Itabira, dá ideia do perfil da clientela que circula pelo bairro Esplanada da Estação, em Itabira. “Vendemos para as classes A e B, para o pessoal que mora no próprio bairro”, afirma a vendedora da loja, Mircelaine Garandí.
O Esplanada da Estação está em franco crescimento, com novos prédios por todos os lados. “É um lugar onde todo mundo gostaria de morar”, afirma o sócio-proprietário da Portal Imóveis, José Geraldo Martins.
De acordo com ele, um apartamento de dois quartos que há dois anos custava R$ 160 mil na região hoje não sai por menos de R$ 350 mil. O aumento no preço é reflexo da demanda em alta, criada principalmente depois que a cidade recebeu aproximadamente 10 mil novos moradores, que chegaram em decorrência dos novos projetos da Vale. “O dinheiro circula mais, a renda de toda a população aumentou”, comenta o empresário.
De olho neste nicho, Bruno Barcelos Amaral saiu de Belo Horizonte rumo a Itabira para assumir, há dois meses, o restaurante e pizzaria Apricci. Responsável pela implantação dos famosos restaurantes do Instituto Inhotim, em Brumadinho, Amaral afirma que há espaço de sobra na cidade para quem quer oferecer serviços de primeira linha.
Para abocanhar uma fatia dos endinheirados da cidade, ele chegou de mala e cuia. Treinou os mais de 20 funcionários do restaurante, reformulou o cardápio e reabriu as portas sob nova direção. “Em dois meses, saltamos dos R$ 120 mil mensais de faturamento para os R$ 170 mil”, afirma. Grande parte do público é de funcionários da Vale.
Status
E basta prestar atenção em como os funcionários da mineradora são tratados pelo comércio de Itabira para perceber que trabalhar na companhia é sinônimo de status. “Isso acontece em função da condição financeira. Eu, que vim de fora, vejo isso claramente”, afirma Amaral.
O gerente de uma das unidades da loja de móveis e eletrodomésticos Dular, José Ercílio Barcelos Júnior, concorda. Segundo ele, os comerciantes da cidade enxergam no uniforme verde dos funcionários da Vale uma potencial chance de venda. “Quem trabalha na Vale tem uma renda mais alta que a média da população. Pelo menos, é assim que os comerciantes pensam”, confessa Barcelos Júnior.
Ele comenta que as novas contratações da mineradora –iniciadas há cerca de três anos para implantar os projetos Conceição-Itabiritos I, Conceição-Itabiritos II e adequação da usina de Cauê– fez com que as vendas deslanchassem. “Na época, vendemos muitos, pois eles precisavam equipar as casas”, afirma o gerente.
A vendedora da loja de celulares Vip Cell, Neyla Reggiani, garante que o aumento de pessoas na cidade refletiu positivamente no comércio. “Vendemos muito mais hoje”, comenta.
Empregos
O vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Itabira (CDL-Itabira), Maurício Martins, lembra que o comércio é o principal setor empregador da cidade, com 15 mil postos gerados, seguida pela Vale e pela prefeitura, com 3,4 mil. No entanto, ele ressalta que os empregos só existem devido à melhoria da renda proporcionada pela mineradora.
“Na crise de 2008, quando a Vale demitiu centenas de funcionários em Itabira, pudemos ver como a mineradora movimenta a cidade. O comércio ficou às moscas”, diz. Entre meados de 2008 e 2009, a Vale demitiu quase 2 mil funcionários em todo o país.
Fonte: Hoje em Dia