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Em um dos momentos relatos, Marcelo Melo entrevista ex-prefeito, Leonardo Diniz "In Memoriam" (Foto/Arquivo Pessoal)
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Exilado em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, desde o final do ano passado, o jornalista Marcelo Manuel de Melo, de 54 anos, prepara um verdadeiro “dossiê” em que pretende contar na sua ótica a história política dos últimos 30 anos em João Monlevade. As quase 400 páginas do seu livro “A Saga. Histórias de um jornalista do interior”, com lançamento independente previsto para março, reúnem relatos deste período em que atua na imprensa escrevendo e vivenciando os fatos contados.
Depois de dar como concluída a parte de criação editorial e gráfica, Marcelo Melo aguarda o final da impressão do livro que trata como “um filho parido”.
O jornalista-escritor demonstra nessa entrevista que o período de refúgio no pacato lugarejo escolhido para arejar as ideias e organizar as histórias em forma de livro foi mais que uma morada nesses últimos meses. Marcelo Melo se diz mais amadurecido e confessa que aprendeu, com as pessoas do lugar, a ver a vida de outra forma.
A empatia foi tamanha que ele anunciou sua decisão de permanecer morando em Lavras Novas mesmo após a conclusão do trabalho editorial. Em outro ritmo, vai continuar exercendo ali o seu jornalismo. Já criou um site – portallavrasnovas.com ,e planeja, quem sabe, editar um jornal local.
Acompanhe a entrevista em que Marcelo Melo fala do livro que promete causar polêmica ao revelar histórias inéditas dos bastidores da política monlevadense. É o próprio autor quem define o trabalho como “400 páginas que certamente irão provocar polêmicas, discussões e até talvez algumas acões na Justiça”.
Última Notícia - Você fez um retiro quase espiritual, no alto da serra de Lavras Novas, para ordenar as ideias no livro. Antes de falarmos sobre a obra, o que este período influenciou no ser humano Marcelo Melo?
Marcelo Melo - Posso dizer que influenciou muito e de forma positiva. Minha mudança para esse lugar, que considero mágico, alterou de uma forma compacta o ser humano Macelo Melo. Realmente é estranho quando pensamos que já fizemos de quase tudo, ainda mais depois dos 50, e descobrimos coisas novas que, se nos amadurecem de uma forma, nos fazem sentir renovados no lado espiritual. Aqui em Lavras Novas descobri que precisamos de pouco para sermos felizes. Hoje, aprendi de verdade, que as pessoas simples são as mais sábias e que as coisas da natureza são mais fáceis de serem absolvidas.
UN - Para provocar: você que foi polêmico em alguns momentos da sua história falando dos forasteiros em João Monlevade no aspecto político, como se sentiu sendo forasteiro em Lavras Novas?
MM – Realmente eu sempre bati muito nos forasteiros que chegavam a João Monlevade, principalmente na época que governava Monlevade o saudoso Leonardo Diniz. Naquele período, um monte deles se aportou em nossa cidade. E o que sempre critiquei foi de se trazer para Monlevade pessoas de fora para comandar uma cidade que nem conheciam, nem sabiam de seus costumes e de sua cultura. Tanto que chegaram, ganharam dinheiro e se mandaram. Porque o compromisso deles nunca foi com João Monlevade, mas sim com o Partido dos Trabalhadores. E provo isso. Agora, sinceramente, desde que cheguei em Lavras Novas, considero-me um forasteiro. Mas, quando você aporta num lugar estranho, que não é a sua terra, tem de se respeitar e valorizar a cultura do lugar. Inteirar-se ao povo nativo, ser sociável. E eu, aqui neste paraíso, aprendi a ter este respeito e comungar com as pessoas. Aqui sou um forasteiro também respeitado pelo povo do lugar. Isso é muito gratificante, porque não se pode chegar num lugar e tentar mudar o que nele se preserva. Os costumes têm de ser os primeiros a serem respeitados.
UN - Com o livro em fase final de diagramação, qual a palavra ou uma frase que resume seu sentimento neste momento?
MM - Uma satisfação enorme de ver este sonho concretizado. Deus me abençoou. Foi como parir um filho.
UN - Imaginando que algo que vem do Marcelo Melo vai estar recheado de polêmicas, depois de publicado, o livro vai te fazer uma pessoa mais admirada ou mais “odiada”?
MM - Sinceramente, não me preocupei com isso ao elaborar o projeto, que foi ás custas de muita pesquisa e digitação. Nem mais amado e nem mais odiado. Talvez, sim, e aí falo sem falsa modéstia, mais respeitado, pela coragem de colocar no papel o que vivi e testemunhei ao longo dessas três décadas. Com fatos reais e nomes nada fictícios.
UN - Claro que antes de sair da gráfica você não vai adiantar as histórias contidas na obra, mas relate algo que seja um bom motivo para se comprar “A Saga”.
MM - Verdade. Não pretendo adiantar nada da obra, mas bons motivos existem para se comprar o livro. É mesmo uma Saga e são muitas histórias entre as notícias e os bastidores delas. Há fatos que só quem viveu pode relatar, como a greve dos 23 dias (1986), o “Caso Ricarbene”, as campanhas eleitorais, ma¬térias policiais, assembleias sindicais, os processos, as negociações. Digamos ser um documentário impresso e para ser guardado por todos os monlevadenses. Não o fiz para agradar, mas para resgatar um pouco de toda história vivida em nossa cidade, contada pela imprensa. Serão 400 páginas que certamente irão provocar polêmicas, discussões e até talvez algumas ações na Justiça. Mas, fazer o quê? São os ossos do ofício (rs).
UN - As histórias que você revela certamente trazem várias passagens pessoais, informações reais de momentos que você vivenciou. Há alguma passagem no livro que você mudaria se tivesse que revivê-la hoje?
MM - Talvez sim. Talvez não. Cada tempo se vive de uma forma. Logicamente que, ao longo desses 30 anos de profissão, entre o Marcelo Melo de ontem e o de hoje, muito se mudou, muito se aprendeu. O que não mudaria, jamais, seria a minha forma de fazer jornalismo, porque adquiri e tenho credibilidade justamente por ter tentado ser, em minha lida diária, um profissional sem meias palavras, tanto em rádio quanto no impresso. Mostrando minha opinião sem medo de desagradar. Errei tentando acertar e acertei quando tentei. Jornalismo é isso, dinâmico e tem de ter conflitos, mas com ética. Talvez no início da carreira, na ânsia de acertar, como todo jovem, que acredita ser o “dono da verdade”, tenha me excedido. E isso eu sinto quando releio os artigos que assinava, lá nos anos 1980, quando era muito agressivo nas palavras. Talvez hoje, mudasse. Poderia escrever a mesma coisa, ter a mesma opinião, mas de for¬ma mais madura, sensata.
UN - Com 30 anos de jornalismo, depois de escrever um livro e viver na calmaria de Lavras Novas podemos dizer que o Marcelo Melo vai tecnicamente se aposentar? O que não quer dizer deixar de trabalhar...
MM – Não creio e nem pretendo. O futuro a Deus pertence e hoje minha prioridade é lançar este livro. Mas, após ver a obra concretizada, acho que tenho muito ainda a contribuir, tanto para João Monlevade e Lavras Novas, quanto ao jornalismo. Meu blog, meu site e pelo Face-book. Muito na rede e no cotidiano. Quero ainda muita estrada para caminhar nesta área do jornalismo, que é uma cachaça da qual jamais pretendo me afastar.
UN - Quando a obra será lançada, onde e como será este momento?
MM - Bom, mando o livro para a gráfica na próxima semana, se Deus quiser. Minha intenção é fazer um pré-lançamento, no dia 28 de março ou 4 de abril, provavelmente no prédio do antigo Cassino. Assim como foi com o site do “Morro do Geo”. Um lugar que tem tudo a ver com a nossa história. Este só para os parceiros, pessoas que fi¬zeram a compra de cotas do livro antecipada, amigos e imprensa. Outros dois durante o mês de abril, para o público em geral, combinando com os 50 anos de emancipação político-administrativa de João Monlevade. Este é o nosso objetivo.
UN - E uma pergunta que não quer calar: vai voltar para Monlevade ou já é cidadão honorário de Lavras Novas?
MM – Como disse anteriormente, o futuro pertence ao nosso Criador. Mas, sem meias palavras e apesar de amar muito a minha terra natal, e nem preciso provar isso para ninguém pela obra que deixei nessa cidade , pretendo passar o tempo que me resta aqui em Lavras Novas. Voltar para João Monlevade, não. Aqui cheguei, em julho de 2013, para ficar no máximo uns cinco meses, até terminar o livro. Afinal, há oito anos frequento esta terra e sabia que iria me dar inspiração e paz para terminar minha obra literária. Mas, aos poucos, na convivência com o povo nativo e a qualidade de vida que passei a ter aqui, além deste visual que me faz cada dia mais apaixonado, decidi fincar barraca neste para¬íso. E, para isso, lancei recentemente um novo site (www.portallavrasnovas.com), em que pretendo investir e dar espaço para esta comunidade. E quem sabe até rodar um impresso simples, tablóide de oito páginas. Mas isso para um futuro. O importante é que os meus filhos, minha es¬posa e minha família têm me dado apoio nessa mudança. Nem assim tão radical!
Ah, e uma observação que não poderia passar em branco: um agradecimento muito especial ao empresário Márcio Passos, que foi a primeira pessoa que me deu a oportunidade de colocar a cara nessa profissão. Também ao historiador Francisco de Paula Santos (Barcelona), por ter me dado todo o suporte para as pesquisas e contribuído diretamente na elaboração da obra e ao professor Geral¬do Eustáquio Ferreira (Dadinho), por ter me dado a honra de fazer a revisão do livro. E a você, Emerson Duarte, e à equipe do “Última Notícia”, pelo espaço concedido. Mui¬to obrigado, mesmo.
Fonte: Site Última Notícia - 23/02/2014