Grande vacilo cultural do governo Damon de Sena
Em 18 de novembro de 1814, há exatos 200 anos, morria Antônio Francisco Lisboa, o magnífico Aleijadinho. Cidades mineiras de forte apego às artes comemoram hoje, com eventos que continuarão durante a semana e o mês, a bela obra que o genial escultor legou ao mundo. Estão certas essas cidades, pois é data que não pode passar no vazio – pelo menos, para os amantes da arte.
E o que Itabira – precisamente, a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade – preparou para também reverenciar o artista, síntese do melhor em Minas? Nada, nada, nada.
Isto mesmo: nada. Um sarau? Não, nada. Um concerto? Não, nada. Uma exposição? Não, nada. Itabira não preparou nada. Isso significa que, para a cultura oficial da cidade, Aleijadinho não existe.
Às 15h03 de hoje, terça-feira, um itabirano ligou para a FCCDA e perguntou: “Todas as cidades sérias estão festejando Aleijadinho hoje. Grande parte da boa mídia está relembrando-o. O que a FCCDA fez para evocar a obra do mestre, do grande, do imenso Aleijadinho?” Resposta: “Não fizemos nada, não”.
Itabira comeu mosca, vacilou, esqueceu, deixou pra lá. E é também assim, com desdém cultural, que uma cidade se enfraquece, perde a chance de se firmar como urbe vocacionada para a arte, para o belo, e caminha para a barbárie. É também por vacilos assim que Itabira está mais para Ribeirão das Neves que para Ouro Preto.
O que Itabira poderia (e deveria) fazer para comemorar Aleijadinho? Muito, a começar por relacionar o artista barroco com o poeta cujo nome a FCCDA carrega. Como Carlos Drummond de Andrade via o escultor? Eis aí bom tema para um evento.
Mas, não, a FCCDA nada fez, esqueceu Aleijadinho. Itabira está calada para o genial toreuta, artista de alcance universal. A FCCDA não promoveu para hoje sequer uma simples leitura dos poemas de Drummond que citam Aleijadinho.
Como O Voo Sobre as Igrejas, em que o poeta itabirano esculpiu estes versos:
Esse mulato de gênio
lavrou na pedra-sabão
todos os nossos pecados,
as nossas luxúrias todas,
e esse tropel de desejos.
e essa ânsia de ir para o céu
e de pecar mais na terra;
Era uma vez um Aleijadinho.
não tinha dedo, não tinha mão,
raiva e cinzel lá isso tinha,
era uma vez um Aleijadinho,
era uma vez muitas igrejas
com muitos paraísos e muitos infernos,
era uma vez São João, Ouro Preto, Sabará, Congonhas,
era uma vez muitas cidades,
e um Aleijadinho era uma vez.
Nas fotos, obra de Aleijadinho e capa da biografia O Aleijadinho, sua vida, sua obra, sua época, seu gênio, escrita por Fernando Jorge, colaborador dO TREM, e que ganhou de Cecília Meireles este elogio: “Uma obra sem concessões, translúcida e bela”.
INFORMOU O PLANTÃO O TREM/SITE O CAUÊ.
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