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domingo, 6 de abril de 2014

O último adeus a José Wilker, um ator crítico e irreverente

Depois do susto da notícia do infarto fulminante neste sábado, amigos e fãs se despedem do artista no Teatro Ipanema

Fãs se despedem de José Wilker no velório, no Teatro Ipanema (Foto/ Hudson Pontes / Agência O Globo)
 

 
 
RIO - Durante o velório de José Wilker, no Teatro Ipanema, onde o ator fez um de seus maiores sucessos, a peça "O arquiteto e o Imperador da Assíria", em 1970, amigos e colegas de profissão se reuniram, durante a madrugada deste domingo, para dar um último adeus a esse cearense que foi um dos grandes nomes do teatro carioca, das novelas da Rede Globo e do cinema nacional. Faustão, Wolf Maya, Pezão, Eduardo Paes e RioFilme enviaram coroas de flores. A cerimônia de despedida segue, aberta ao público, até 15h. O corpo de Wilker será cremado no Memorial do Carmo, às 18h deste domingo.
 
Considerado pela maioria dos presentes como um dos melhores atores de sua geração, Wilker era lembrado pela inteligência que deixava transparecer em suas interpretações.
 
Ary Fontoura, que foi dirigido por Wilker no teatro em "Sábado, domingo, segunda" (em 1986), e com quem contracenou em "Tem banana na sanda" (em 1970), em clássicos da teledramaturgia, como em "Roque Santeiro" (em 1985), e até no trabalho mais recente do parceiro, em "Amor à vida", se lembrou do humor e da cumplicidade criada em décadas de convivência:
 
— Foi um dos meus maiores parceiros. A gente tinha o mesmo tipo de humor. Éramos capazes de nos entender com um olhar.Quando tinha uma cena mais tensa a gente fazia brincadeira para descontrair.
 
Muitos ainda se recuperavam do susto da morte inesperada. Stênio Garcia lembrou que o amigo mantinha uma dieta balanceada:
 
— Ele fazia alimentação ayurvética e era preocupado com a saúde. Nada passava despercebido ao Wilker. Ele gostava de marcar sua presença em tudo.

Sempre atento aos rumos do cinema, ele demonstrou pessimismo em relação à sétima arte em sua última conversa com Luiz Carlos Barreto:
 
— Passamos nosso último encontro falando sobre a situação do cinema e ele estava muito preocupado.
 
Wolf Maya, que dirigiu Wilker em sua última novela, "Amor à vida", contou que quando viu o ator em cena pela primeira vez, sentiu que deveria seguir o caminho da dramaturgia.
 
— Foi o primeiro grande ator que eu vi, em 1971. Ele influenciou toda uma geração. Wilker era um ator muito corajoso. Espero que seja uma exemplo para as futuras gerações de atores.
 
Fãs se concentram na porta do Teatro Ipanema para o adeus a José Wilker (Foto/ Hudson Pontes / Agência O Globo) 
      
José Mayer lembrou que começou na carreira de ator ao lado de Wilker, em "Bandidos da Falange" (minissérie de 1983) e elogiou a inteligência e visão do amigo.
 
— A obra de Wilker é incomensurável. Ainda não temos a noção da importância, mas a história vai fazer justiça. Ele era um ator inteligente, capaz de expressar uma opinião quando realiza uma interpretação. Wilker tinha uma arguta crítica e clara visão sobre o papel do seu próprios oficio e sobre o Brasil.
 
A atriz Susana Vieira, com quem Wilker viveu diversos casais em novelas, disse se sentir viúva do ator. Susana aproveitou para lembrar da delicadeza do amigo, de quem ainda vai sentir muita falta.
 
— Sou a mais viúva de todas as atrizes. Foram 42 anos de casamento (nas telas), que começou com o "Bofe" (novela de 1972). Ele era uma pessoa tão delicada... Acho que a morte dele foi delicada na medida certa — disse.
O ator e diretor Daniel Filho descreveu o lado menino no amigo que morreu aos 69 anos de idade, vítima de um infarto fulminante.
 
— Foi um grande moleque irreverente. Um amante da vida, sempre inquieto. Ele ensinou como ser irreverente.
 
O autor de novelas Gilberto Braga revelou o início conturbado da amizade com José Wilker e as brigas que deixaram saudades em vez de mágoas.
 
— Houve um período em que fomos brigados. Quando ele era novo era agressivo e brigamos na primeira novela que fizemos juntos ("Louco Amor", de 1983, escrita por Braga e dirigida por Wilker). Depois fizemos as pazes. Vou ficar com saudades de nossas brigas — contou.
 
Muita abalada, Marieta Severo não falou com a imprensa. Paulo Betti descreveu o colega de profissão apenas como um ator excepcional, muito acima da média. Renata Sorrah lembrou da amizade de décadas e de ter feito a primeira peça escrita por Wilker, "O Trágico Acidente que Destronou Tereza". Já Letícia Sabatella aproveitou para descrever esse mestre das artes cênicas.
 
— Ele era um mestre, um colega maravilhoso e um ator genial. Vou sentir saudades.


*Velório

O ator Marcos Oliveira, que interpreta o personagem Beiçola, na “Grande Família”, compareceu ao teatro pouco tempo depois carregando uma rosa branca. Ele disse que era um grande admirador de Wilker.

“Eu não tinha relação de amizade com ele. Sou um admirador e nunca tive o prazer de contracenar com ele. Sempre admirei muito seu trabalho. Era inspirador tudo que ele fez na relação de ator, de comportamento e relacionamento. Então, vim fazer a última homenagem, pois acho que ele merece mais que isso”, disse Oliveira.

Genézio de Barros afirmou estar chocado com a morte do amigo José Wilker. “Acabamos de fazer ‘Amor à vida’ e fizemos ‘Gabriela’ também. Pra mim foi um choque. O Zé era um cara incrível, brincalhão, mal humorado, engraçado, era um menino! Me assustou a morte dele, pois temos a mesma idade”, disse Barros.

O ator Felipe Camargo falou que Wilker era o ‘Jack Nicholson’ brasileiro. “Ele Sempre foi uma referência pra mim. Referência muito forte. Era o nosso Jack Nicholson. Falei com ele há três semanas e estava do mesmo jeito de sempre, ele estava ótimo. Fica o legado dele. Do jeito que ele gostava de trabalhar, já deve está tendo ideias aonde estiver!”, disse Felipe Camargo.

“Ele foi cedo demais. Em pleno voo. Mas, não poderia ser diferente, não poderia ser uma morte anunciada. A morte foi tão surpreendente quanto a forma em que ele viveu. Estreamos juntos na TV, em ‘Bandeira 2’. Comemorei meus 18 anos com ele. Foi uma amizade intensa. O Wilker não parava de pensar e quis ser o protagonista da vida dele. Criava muito e não se contentava em ser somente autor”, afirmou Stepan Nercessian.

A atriz Beth Faria esteve no velório e contou que esteve com Wilker há poucos dias. “Era um  irmão, amigo, companheiro de trabalho. Tinha um humor delicioso. Fizemos muitos trabalhos juntos na TV e no cinema. Falei com ele semana passada e ele disse que estava de dieta nova, se cuidando, caminhando com a namorada, estava se sentindo saudável. Não entendo como isso aconteceu”, lamentou Beth Faria.

Milton Gonçalves, amigo de Wilker há 50 anos, disse que ele era uma pessoa muito verdadeira.

“Ele era tido como rude, às vezes, mas na verdade, ele era verdadeiro numa sociedade de mentira. Minha amizade com o Wilker durou mais de 50 anos. Só posso falar bem e não é porque morreu não. Às vezes era irritado, mas devemos compreender as pessoas. Ele contribuiu de forma muito positiva para a arte”.

Stênio Garcia ressaltou o jeito brincaçlhão de Wilker e disse que o amigo era um exemplo de pessoa.

“A última vez que estivemos juntos, ele até brincou, dizendo pra nós nos cuidarmos, pois ele estava fazendo alimentação ayurvédica. Ele estava sendo um exemplo de saúde para nós. Vai fazer uma falta incrível! Era sarcástico, mas era brincalhão. Eu já encontrei com ele em diversas partes do mundo”, contou Stênio Garcia.

A atriz Vera Holtz disse que o amigo está sempre em sua vida. “O Zé ainda não é lembrança, nem saudade. É uma lembrança constante em nossas vidas. Sempre manteve o humor e sempre foi um homem de opinião. A opinião dele em época de Copa e eleição fará falta”, disse Vera Holtz.

Beth Goulart estava muito emocionada quando chegou ao velório do ator. “Wilker era um homem que representava a arte brasileira para o mundo. Ele tinha muitas frentes de trabalho. É muito difícil estar aqui, mas a Mariana [filha de Wilker] me enviou um e-mail tão lindo quando perdi meu pai, que eu tinha que estar aqui para dar um abraço nela”, contou a atriz.

Rafael Infante trabalhou com José Wilker na peça “Remember” e falou com carinho do ator. “Ele tinha noção do jeito de falar, a sutileza da comédia. Ele tinha respeito por cada palavra. Era um gênio. O Roque Santeiro foi muito marcante com aquele deboche. Ele deixa a seriedade de encarar a profissão para todos nós atores”, afirmou Infante.

“Perdemos um colega, um amigo, um homem elegante, um homem culto de quem a gente se orgulhava. Ele cumpriu a missão dele lindamente. Dizem que a missão de um homem é profissão dele. Ele cumpriu a dele e teve a partida eleita pelos deuses. Ele partiu tranquilo”, falou Arlete Sales.

Gracindo Júnior definiu Wilker como um “orgulho” para os profissionais da área. “É a perda de um grande amigo. Era da minha geração de atores, um mestre. Ele deixou uma história bonita. Pessoa assim é um orgulho que eu tenho pela minha profissão e que todos atores devem se orgulhar”, afirmou Gracindo Júnior.

Muitos colegas de profissão já passaram pelo local desde sábado. Entre eles, os atores Tony Ramos, Renata Sorrah, Ary Fontoura, Giulia Gam, Marieta Severo, Eriberto Leão, Vera Holtz, Natália do Vale, Susana Vieira, Malu Mader, Glória Pires e Marcelo Serrado.

“Eu sou a maior viúva de todas as atrizes. Que me desculpem os outros atores, mas o Wilker era especial”, disse Susana Vieira, que lembrou o personagem Giovane Improta, da novela ‘Senhora do destino’, que sempre dizia “Se precisar, estou aqui”. “Como pessoa ele sempre foi assim. Sempre disponível para os amigos. Vou aproveitar vocês [jornalistas] para mandar um recadinho para ele. Zé, fica aí, bem bonitinho, com sua meinha colorida, seu tênis cor de rosa. Não sei onde você está, mas fica aí, bem bonitinho”, disse a atriz, que prometeu escrever uma crônica sobre o amigo.


Fã viaja 700 quilômetros para se despedir

A primeira fã a chegar no velório neste domingo foi a arquiteta Ana Buarque. Vizinha ao teatro, ela disse que ficou emocionada quando soube da notícia. “Eu o admirava muito pelo talento e voz. Como moro ao lado e vi que ontem havia fila, então desci para prestar minha homenagem assim que acordei”, contou Ana Buarque.

A dona de casa Rosana Aparecida da Silva, de 53 anos, e a filha contaram que viajaram 700 quilômetros para acompanhar o velório de Wilker. Elas moram em São Roque, no interior de São Paulo.
 
 
Fã viaja 700 Km para se despedir de Wilker ( Foto: Daniel Silveira/G1)

“Há pessoas que fazem tanto pela gente e José Wilker era uma dessas pessoas. Ele transmitia ser bom caráter e seus papéis sempre me emocionavam ou divertiam, como o Vadinho e JK”, contou Rosana Silva.

Rosana contou que em sua família Wilker era chamado por todos de “rouba-cena”. “Tudo que ele fazia era perfeito”, opinou. Ela lamentou não ter visto o artista pessoalmente ainda em vida. “Eu sempre dizia que iria a São Paulo ver uma peça dele. A gente fica adiando até que um dia não tem mais o depois”

O teatro, segundo familiares, foi escolhido porque lá Wilker deu início à carreira de ator, na peça “O arquiteto e o imperador da Assíria”, em 1970 — o artista foi premiado pela sua interpretação.
 
 
Fonte: Site o globo.com e *g1.com 

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