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sábado, 21 de fevereiro de 2015

SÁBADO COM CRÔNICA

De um dos maiores escritores do país, uma crônica enviada com exclusividade para o jornal O TREM Itabirano, 
 
para gáudio (sim, gáudio) de todos que apreciam o prazer da boa escrita.
 
Meu nome é Mario Quintana 
 
 
Por Ignácio de Loyola Brandão, colaborador dO TREM em São Paulo.
 
Os escritores autorreferentes, os
vaidosos de plantão, os que vivem tirando
selfies (no tempo do Pasquim
se diria: isso é coisa de viado) devem
ler (e meditar, aprender, não apenas ler)
a matéria sobre Mario Quintana dO
TREM Itabirano de dezembro. A certa
altura Edmílson Caminha faz um relato
que foi bem relembrado. A generosidade
de Paulo Roberto Falcão, aquele
que foi muito bom de bola e melhor de
coração. Duro, sem emprego, sem dinheiro,
sem ter onde morar, Quintana
recebeu abrigo no Royal Palace
Hotel, cujo dono era o jogador.
Ganhou apartamento, serviço, comida,
o que precisasse. Morreu amparado
um de nossos maiores poetas.
Conta Edmílson que no apartamento
do poeta havia poucos haveres:
“Máquina de escrever Remington,
alguns livros, televisão, uma escultura
que servia de cabide para a boina
e posters (que a revisão não
mude para o horrendo pôsteres) de
Greta Garbo, Cecília Meireles e Bruna
Lombardi”. Sabia o que era bom
o Quintana, selecionava bem. Ali ele
tinha tudo o que precisava.
Nenhum de nós, escritores, deixa
de ter sua paixão por algum mito.
Tive por Helena Ignez, por Joanna
Fomm, tenho por Glória Pires. Seres
estelares, icônicos, distantes.
Bruna iluminou os últimos anos de
Quintana e deve ser louvada por
isso. Foi tudo lindo.
Mas o que comecei escrevendo
(me desviei) é que esses nossos escritores
ansiosos pela mídia, pela
fama célere e instantânea, deviam conhecer
um pequeno episódio por
mim vivido na Feira de Livros de Porto
Alegre, há dezenas de anos. Autografei
um livro, entreguei a uma leitora,
apanhei um volume sobre a
mesa, ergui a cabeça e um senhor
me sorriu e disse:
– Meu nome é Mario Quintana.
– O que isso, Mario? Acha que
precisa? Você?
– Precisa. Para não constranger.
Nunca mais deixei de chegar, entregar
meu livro com o papelucho e
meu nome, acrescentando: meu
nome é Ignácio de Loyola Brandão,
por favor.
PS: recentemente, cumpri meu ritual
e o autor à mesa perguntou: “E daí?"
Je suis Charlie!


O TREM/O CAUÊ. PARA REDES SOCIAIS E 30 MIL E-MAILS.

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