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sábado, 1 de novembro de 2014

“O Poeta não morreu, estreou no céu”


O Poeta não morreu, estreou no céu”
‘Em certa manhã de Agosto,
um anjo que vive nas alturas disse:
Venha, Carlos, ser gauche na eternidade’!
O poeta partiu e sua ausência empobreceu ainda mais nossa Itabira
e o Brasil, já tão carentes de ideias e poesia. Mas a voz de Drummond,
afinada nos vários anos de luta com as palavras, e que teve seu
começo numa velha rua de Itabira, se espalhou para os quatro cantos
do mundo, agora vibrará para sempre em pátrias distantes.
São vinte e dois anos sem a presença física do Poeta gauche de
Itabira. A cada ano, uma doce saudade toma conta de todos nós que
aprendemos a amar e reverenciá-lo. Sempre aguardávamos ansiosos
por um novo poema, uma crônica, até mesmo sua participação em um
programa de TV. Seria momento de orgulho ver o nosso conterrâneo
na telinha. Nosso itabirano tímido, desconfiado, expressando sentimentos.
Como seria prazeroso!
Lembro-me muito bem, foi quando cursava a segunda série na
Escola Normal Mestre Zeca Amâncio, ali no velho Grupo de Itabira,
onde o poeta aprendeu suas primeiras lições, que tive o primeiro contato
com um texto drummondiano: “O Cometa Halley”. A passagem
desse majestoso astro pelo céu de nossa cidade era descrita detalhadamente.
Foi um misto de encantamento e orgulho, uma satisfação
imensa em saber que quem escreveu aquele texto tão bonito também
havia nascido aqui, na minha/nossa Itabira.
Assim que cheguei em casa, imediatamente contei a novidade
para minha mãe e brindei-a com a leitura do texto. Ao terminar, ela
fez o seguinte comentário: “é um dos filhos dos Andrade, gente importante, que foi embora da cidade, como muita gente está se indo”.
Não entendi direito, mas senti em sua fala algo estranho, carregado
de sentimento, principalmente quando disse “como muita gente está
se indo”.
Comecei a questionar-me sobre aquele sentimento forte presente
na alma itabirana, curioso por entender o que era, de onde vinha
e por quê. Só me foi possível clarear tais questões a partir do momento
em que aumentei a convivência com a literatura de Drummond.
Ali vi explícita a inquietude da alma itabirana. “Por isso sou triste,
orgulhoso, de ferro”. Entendi que todo aquele sentimento era uma
pura expressão de amor.
Drummond demonstrou, com seus versos, um incondicional
amor à sua velha Itabira. Com sua sensibilidade poética, cantou as
coisas mais simples da alma humana. Imortalizou João, José, Tereza,
Maria, Antônio, Lili. Protestou quando mudaram o nome de sua terra
natal. Sofreu ao saber que o maior trem do mundo estava levando sua
terra para a Alemanha, Japão e Canadá.
Muitas vezes foi incompreendido pelos conterrâneos, mas também
amado por muitos, de muitas outras nações.
E agora, Poeta?
Todo garboso aí do alto, hein,
ao lado de sua Dolores
e sua Maria Julieta…
Trocando figurinhas
com Manuel Bandeira,
Fernando Pessoa,
Roberto Drummond,
Vinícius e Cora Coralina.
E nós, aqui da terrinha,
morrendo de saudades
de suas “gauchisses”.
Para nós, você será sempre
a doce herança itabirana.
Livro, Viagem na história de Itabira, com o Menino da Mina.
Marconi Ferreira

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